terça-feira, 31 de agosto de 2010

Chile: Comunicado de Mónica Caballero, Presa Anarquista


A tod@s @s insurrect@s:

A hegemonia do Poder foi colocada em cena no dia 14 de agosto por volta das 7 a.m., quando efetivos do GOPE entram no lugar onde moro ou morava, a casa okupada “La Crota”, tirando a cortina de nossa biblioteca, o CDAI (Centro de Documentação Anarquista Itinerante), amarrando-a a um automóvel. Ao escutar o estrondo, pude apenas sair ao pátio onde a polícia, armada até os dentes e com sua prepotência característica, me levam. Posteriormente sou levada a um local onde me foram lidas as acusações pelas quais estou sendo detida. Dentro do mesmo procedimento me efetuaram um exame nas mãos, no qual se buscavam traços de explosivos. Tal exame foi feito sem estar a par nem me explicarem nada: erro garrafal de minha parte. O mesmo exame é realizado em duas pessoas que se encontravam em meu amado lar, Vinicio Aguilera e Diego Morales, o qual é a única prova que a polícia possui para nos culpar.

Me despedi de meus companheir@s irmãos/ãs, canin@s e felin@s. Um de meus companheiros de 4 patas jamais deixou de grunhir para a polícia. Não se afastou de nós. Acariciei seu lombo e me levaram até a parte dianteira da casa, a biblioteca (CDAI), que estava destruída, como um postal clássico dos regimes totalitários. Neste momento me foram colocadas as algemas que me acompanhariam por várias horas em repetidas ocasiões. Ao sair de meu amado lar, o qual o fiscal chamaria de “centro de poder”, a imprensa buscaria a tomada e/ou foto perfeita dos “colocadores de bombas”. Só receberam nosso mais profundo desprezo. Com a cabeça nunca abaixada, aproveitei a ocasião para vociferar um lema pel@s pres@s mapuche, que atualmente se encontram em greve de fome. No carro da polícia consegui ouvir alguma notícia difusa. Ao chegar à 33 Delegacia encontrei vári@s na mesma situação que eu e certamente continuariam chegando. Somos 14. O controle de detenção se encontrava cheio de companheir@s, amig@s, familiares, afins, irmãos/ãs, @s quais assim como nós sentiam a incerteza. Associação Ilícita Terrorista e colocação de artefato explosivo são as acusações que me fizeram. A formalização se realizaria na terça-feira.

Ao saírmos da sala conseguimos escutar os gritos cheios de ira e raiva d@s noss@s. Gritos que remexeram o mais profundo e encheram de força para o que vem. Não estamos sós!! Suas ações e atitude me enchem de orgulho!! A espera pela formalização das acusações foi eterna. Incomunicáveis, sem ver nada das notícias, sem sequer um lápis. Ao chegar o dia no qual o Poder trataria de nos deixar o maior tempo possível na prisão, conseguimos por entre as grades e algemas tocar as mãos de noss@s companheir@s e a gritos cruzar alguma palavra.

Na audiência se restringiu a entrada a um familiar por cada acusad@. A Igreja se somava desta vez a Promotoria Sul e o Ministério do Interior. O promotor Alejandro Peña começou sua verborragia com os alicerces de acusação de Associação Ilícita Terrorista (a qual só existe na sua cabeça). Segundo este, a organização é informal, democrática e horizontal. Nos causou riso ao dizer. Tantos anos de investigação para tão complexa resolução? Que precária mentalidade para tão ilustres funcionários. Posteriormente segue com as provas de cada acusad@: elementos como livros, fotos, escritos, escutas telefônicas, PCs, pendrives, vídeos, cartazes e, provavelmente, este mesmo comunicado seriam o sustento de nossa periculosidade. Como se o circo fosse pouco, em um ato maquiavélico e cruel do tão respeitado promotor, mostra fotografias de Maurício Morales morto após detonar o artefato explosivo que estava direcionado à escola de carcereiros, em maio de 2009. Buscava nos quebrar, mas apenas alimentou nosso ódio. Uma grande prova seria a declaração de Gustavo Fuentes Aliaga, vulgo “El Grillo”, traficante que no dia 31 de dezembro de 2008 apunhalava 7 vezes a sua esposa, Candelaria Cortéz-Monroy. 180 dias de investigação são os que outorgou o juíz.
Mas já não seríamos 14, mas 8. Seis companheir@s não permaneceriam sequestrad@s nas masmorras do capital. Um forte abraço para el@s. Não lhes basta os 4 promotores e os anos de investigação para buscar novos antecedentes para montar uma artemanha de proposições e assim nos deixar na prisão.
Atualmente me encontro no SEAS (Sessão de Alta Segurança) do CPF (Centro Penitenciário Feminino) de Santiago. Continuarei com minha dieta vegana. A luta contra a dominação não se negocia até as últimas consequências. Orgulhosa do que sou e dos meus, abraço cada gesto de solidariedade e rebeldia. Não me calarão. Ninguém mais que o indivíduo pode ou tem que lutar por sua liberdade, nada mais do que movido por seu coração. Que a natureza selvagem proteja os queridos felinos que correm pelos telhados e não chegue uma noite de negros augúrios. E a tod@s hoje e sempre:

“Nem deus, nem mestre”

Com o coração feito merda, mas latindo mais forte do que nunca!!

Pelo fim de toda dominação e exercício de autoridade, procurem que viva a anarkia!

Mónica Caballero, SEAS, CPF, Stgo de $hile. Presx Anarquista