sábado, 4 de setembro de 2010

Carta aberta sobre o atual cenário repressivo

Sexta-Feira, 20 de Agosto

Do Chile fazemos um chamado de solidariedade internacional

anônimo


O que se viu no sábado passado já se farejava, ante à impossibilidade de frear os contínuos ataques materializados pelo poder por parte da promotoria e do governo, não lhes restou outra opção além de inventar de sua forma e sob seus códigos esta alardeada "Associação Ilícita Terrorista"; todxs sabemos como tem ocorrido os fatos e vários textos já podem nos esclarecer mais ou menos o filme.

A que se presta tamanha manobra por parte do Governo? No dia da segunda formalização de acusações, o contingente policial não se comparou nem sequer com o dos Care’ Jarro: Helicópteros, dois cercamentos policiais, ônibus, tanques de diverso tipo, etc… A espetacularidade do operativo pode nos trazer à luz qual a importância que o Governo dá a estes fatos. E que são apenas bombas artesanais, caseiras, feitas por grupos de afins e herméticos, com falhas que até custaram a vida de um companheiro, nada supostamente perigoso para todo o aparato militar que pode ter o governo, nem sequer próximo do que pode ter tido apenas uma célula de algum grupo armado dos anos 80. Cabe nos perguntarmos a que temem? E indo um pouco mais além, até onde apontar nossas forças, nossa ofensiva, NOSSA SOLIDARIEDADE?


I

"Junto ao fetichismo da violência, flores do conhecimento imperfeito. Alguns companheiros estão fazendo pouco caso da eficácia dos meios da violência e o perigo destes, fazendo um uso excessivo, como as horas de luta encenada no interior dos refúgios universitários (4) ou também os ataques organizados à polícia anti-distúrbios em Exarchia, dezenas de coquetéis molotov que apenas conseguem "sujar" o asfalto, enquanto as mesmas pessoas, se houvessem discutido e se organizado, poderiam esmagar a polícia e atear fogo ao veículo policial".

(Comunicado das células do fogo a respeito da morte de 3 funcionários do banco Marfin (Grécia) durante a greve geral)

Vamos falar de uma coisa de cada vez. O principal é nossa segurança e integridade como movimento (movimento, isso que tanto nos custa assumir). COMPANHEIRXS, é importante hoje mais do que nunca não vacilar, nao fazer por fazer, de qualquer jeito, não cair no heroísmo com xs companheirxs, NÃO CONFUNDAMOS A SOLIDARIEDADE COM O SUICÍDIO.

Talvez nem todxs saibamos o que custa manter a um/a presx (comida, roupa, advogadxs, etc.), e já temos 8 presxs pela armação do eskroto de Jálandro, e somar a esta lista por erros evitáveis é cair na armadilha do inimigo. Se xs companheirxs não devem se sentir sós, não é fazendo 100 ações de baixa intensidade que se solidariza com elxs.

A investigação levada pelos aparatos de inteligência nos demonstra muito claramente o que é: uma busca intensiva de erros, de nossos erros. O CSO Sacco y Vanzetti com Mauri, o CSO Jhonny Cariqueo com Diego, a arma inscrita que foi vendida a Mauri, a dedurada de Grillo. A investigação policial não conseguiu nada por sua conta, e isto o poder sabe. Sabe também que xs anarquistas não funcionam com chefes nem financistas, sabem tudo isso, e se não conseguiram grandes acertos, tampouco são babacas.

A estratégia de Jalandro é claramente esquentar o ambiente e buscar mais erros, por isso a de "Salamandra", aquela estufa que guarda o calor, onde é facilmente identificável que paus estão queimando. Talvez minha análise esteja ruim, mas para mim o plano de Jalandro é, por um lado debilitar o movimento, levando-o à preocupação exclusiva com xs presxs (estratégia muito usada na Europa, especificamente na Itália: manter 1 ou 2 anos presxs distintas pessoas de forma que todas as atividades e ações dos compas estejam dirigidas a elas, e logo soltá-lxs para que venham outrxs), e, por outro, ampliar a vigilância policial de forma que ante o menor erro de qualquer ação solidária possa prender com as mãos na massa outra "célula terrorista".

Diante disto devemos saber pensar bem antes de cada coisa que se faça, estudar bem os objetivos e meios, ver de que forma podemos servir a nós ou ao inimigo. É absolutamente necessário compreender que a solidariedade se baseia pura e simplesmente em continuar e intensificar a luta que xs companheirxs e nós mesmxs levamos além dos cárceres, que não se trata de fazer mil pixaçoes onde se diga "liberdade a joãozinho, dieguinho ou predrinho" (ainda que também seja necessário que se faça), mas levar adiante a luta destxs compas, nossa luta. Sejamos capazes de ter perspectivas e entender que o problema dxs presxs* é um problema que nos concerne enquanto movimento revolucionário, presxs sempre teremos, hoje podem ser xs do "caso bombas", em 2006 foram xs da "fábrica de molotov", e há 20 anos foram xs combatentes que continuaram combatendo a democracia. Aqui e em todo o mundo, o Estado vai seguir encarcerando a quem o combate enquanto exista, e o relevante não é que o Estado xs solte, mas que o Estado deixe de existir. Diante disso é necessário saber separar entre nossas discussões e ações, de forma a fazer a prisão dxs compas mais vivível e suportável (ou que saiam dela) e expandir e intensificar a luta contra o Estado/Capital em todas as suas formas.

Neste momento faz-se necessário que o proletariado como classe compreenda a que servem os ataques, a quem atacam, é preciso fazer compreensível a propaganda pelo fato para que esta seja realmente propaganda.

Outra coisa que é necessária é: o nunca ponderado e odiável DINHEIRO.

II

No dia de ontem (Quinta-Feira, 19 de agosto), a rede de televisão TVN, em seu programa estrela de reportagens "Informe Especial", fez um especial sobre o caso bombas onde mostrou a tosca e farsante armação de Jalandro, no dia de hoje pela manhã, 99% dos comentários em seu website repudiou esta reportagem e a ação legal levada a cabo pelo Governo, e um pouco depois a sessão "comentários" desapareceu da página. O que isto nos diz? Que a teoria vanguardista que se move pelos ambientes anarquistas de que o proletariado é algo morto e que apenas pensa em comprar tênis e plasmas está mais equivocada do que nunca. O primeiro passo para avançar é romper com ela.

Se há algo feito de menos é a pouca importância que se tem dado ao movimento social no qual se fizeram as detenções. Estas se fizeram em pleno conflito entre classes, em um instante onde se contrapunha, por um lado a necessidade contra a exploração (o caso dos mineiros presxs em mina), e por outro da terra e o avanço do Capital (a greve de fome dxs Mapuche encarceradxs), é nestes conflitos onde se faz compreensível e assimilável a teoria revolucionária, e isto foi o que o Estado evitou, isto é o que o Estado teme.

Até agora as ações levadas a cabo por distintos grupos que se auto denominam "insurrecionalistas" não saíram do isolamento, tampouco as atividades que realizamos, tampouco os textos que lemos, tudo permanece isolado, e enquanto seguir assim, nos manteremos estancadxs. As famílias dos mineiros com a ilusão de que seus seres queridxs saiam vivxs, xs mapuche levantando a bandeira contra o Estado Chileno, xs estudantes contra a privatização, e nós, xs anarquistas, agora com xs presxs da armação, atacando de e para o discurso, a Ideologia nos estanca, e a prática não é prática nem é efetiva.

O problema não é a ação, nem a propaganda pelo fato, o problema está em que não se saiba onde e quando atuar, nem todas as noites são estratégicas, nem todos os bancos são estratégicos, como o disse aquele velho, bater onde dói. Onde dói ao Estado? Onde há agitação social, onde há revolta real, não discursiva. A insurreição não é permanente por si só, a insurreição se chega, e apenas o proletariado como classe é insurreto.

Enfim, isto é apenas uma carta, não é um texto terminado nem estudado, sai com base na urgência. Por agora é necessário saber como e quando atacar, saber que o ataque não apenas é materialmente violento, e sabermos nos cuidar. Cuidar dxs compxs que estão dentro, escrever-lhes, ver o que lhes falta, e, sobretudo, AGITAR E INTENSIFICAR A LUTA.

CONTRA O ESTADO/CAPITAL.
PELA EXTENÇÃO DA LUTA DE CLASSES E A GUERRA SOCIAL!
PELO COMUNISMO! PELA ANARQUIA!