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Umas palavras de Luisa Toledo.
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Companheiro Mauricio Morales,
Passou-se quase um ano de tua partida e ainda dói bastante a tua ausência, especialmente para xs que foram tuas/eus companheirxs de ideais, do dia a dia, de afetos, de amores e também, tenho certeza, de discussoes e desencontros.
Já passou quase um ano de tua partida e, para algumas de nós tem sido um ano para te conhecer, desde o teu sorriso franco; teu jeito direto de falar, sem falsos preciosismos, quando vicê queria transmitir teu pensamento; teu ser subversivo e questionador diante do qual era impossível ficar imune...
Já passou quase um ano de tua partida e teus companheiros e companheiras me pediram, uma simples mulher do povo, que diga umas palavras neste dia em que você se faz presente aqui para nos ouvir um pouco falando sobe você, mas muito especialmente para nos ouvir dizer que vamos continuar lutando, como nós continuamos avançando neste duro caminhar dxs sem poder... dxs pobres e marginais... Para que você nos interpele com tua linguagem clara e poética: "Companheirxs, acabou-se a vontade, morreram as revoluçoes?" " Porque quando no coraçao a liberdade, o amor e a anarquia acompanham seus latidos, a anarquia nao morre na boca, prevalesce nas maos ativas”…
Liberdade, amor, anarquia.
Gostaria de me referir a dois conceitos ecos vida que sinto concretamente em você e em muitxs companheirxs que tive o prazer de conhecer:
A liberdade... Confesso, maurício, que isto de ser livre me perturba muito, me deixa desorientada, porque sinto que a vida inteira estive apegada a pessoas que eu sentía que eram superiores a mim, primeiro foram meus professores da escola (e olha que quando eu estudava ainda se usava palmatória e o ditado: "a letra entra com sangue"). Dessa forma eu sempre acatava, sem questionar nada. Depois, quando entrei no mundo do trabalho, com certeza os superiores eram meus chefes. Quando me casei com o Manuel, também, isto é, nada de ir morar juntxs como é agora, porque eramos cristaos e os padres eram os que sabiam mais… (já estou imaginando como você poderia estar rindo, rapaz)...
Acho que quando era menina fui mais livre, porque nunca sentí meus pais como pessas ameaçadoramente superiores, mas era uma liberdade como a dos passarinhos...
A época mais livre de minha vida foi a criaçao de meus filhxs, com elxs aprendí a deixá-lxs livres e junto com elxs fui me libertando de minhas amarras...
O compromisso político delxs fez aparecer em mim outras facetas de minha vida, libertando meu ser mulher, política.
A morte de meus filhos fez aparecer em mim a guerreira e creio que desde esse momento tenho sido um pálido reflexo do que você, Mauri, quer dizer quando fala de ser livre... Do que querem falar tantos companheiros e companheiras cujos nomes flutuam aqui e agora: Claudia López, Daniel Menco, Norma Vergara, Alex Lemun, Aracelly Romo, Matías Catrileo, Pablo, Eduardo ,Rafael…Meus filhos.
“Embora o nosso caminho seja cabuloso, que nossos sentimentos ardam no peito mais que vulcao…”
Livres de ambigüidades, livros do indefinido, livres do mediocre.
E a respeito do amor, me parece que quando vocè consegue ser livre pode amar de verdade... até dar a vida... até dar a vida…
Tchau Mauri… Até sempre companheiro, amigo
Luisa.
22 de Maio de 2010
A um ano de tua partida.
(Luisa Toledo. mae de Eduardo, Rafael e Pablo Vergara, jovens reconhecidos em luta ativa contra a ditadura e participantes de diversas expressoes e combate.
Eduardo e Rafael sao assassinados pela polícia em Villa Francia no 29 de Março de 1985. Pablo por sua vez, morre no 5 de novembro de 1988 juntamente com Araceli Romo, produto da detonaçao de uma bomba na cidade de Temuco, segundo as versoes familiares da funesta Central Nacional de Investigaçoes elxs estaríam por trás desse fato.
Xs familiares e companheirxs dxs irmaxs Vergara têm dado uma insistente luta sem trégua contra o esquecimento onde se consegue instaurar o 29 de março como o día do jovem combatente, em homenagem aos irmaos Vergara y t e a todxs xs jovens caídxs)
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Umas palavras de Luisa Toledo.
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Companheiro Mauricio Morales,
Passou-se quase um ano de tua partida e ainda dói bastante a tua ausência, especialmente para xs que foram tuas/eus companheirxs de ideais, do dia a dia, de afetos, de amores e também, tenho certeza, de discussoes e desencontros.
Já passou quase um ano de tua partida e, para algumas de nós tem sido um ano para te conhecer, desde o teu sorriso franco; teu jeito direto de falar, sem falsos preciosismos, quando vicê queria transmitir teu pensamento; teu ser subversivo e questionador diante do qual era impossível ficar imune...
Já passou quase um ano de tua partida e teus companheiros e companheiras me pediram, uma simples mulher do povo, que diga umas palavras neste dia em que você se faz presente aqui para nos ouvir um pouco falando sobe você, mas muito especialmente para nos ouvir dizer que vamos continuar lutando, como nós continuamos avançando neste duro caminhar dxs sem poder... dxs pobres e marginais... Para que você nos interpele com tua linguagem clara e poética: "Companheirxs, acabou-se a vontade, morreram as revoluçoes?" " Porque quando no coraçao a liberdade, o amor e a anarquia acompanham seus latidos, a anarquia nao morre na boca, prevalesce nas maos ativas”…
Liberdade, amor, anarquia.
Gostaria de me referir a dois conceitos ecos vida que sinto concretamente em você e em muitxs companheirxs que tive o prazer de conhecer:
A liberdade... Confesso, maurício, que isto de ser livre me perturba muito, me deixa desorientada, porque sinto que a vida inteira estive apegada a pessoas que eu sentía que eram superiores a mim, primeiro foram meus professores da escola (e olha que quando eu estudava ainda se usava palmatória e o ditado: "a letra entra com sangue"). Dessa forma eu sempre acatava, sem questionar nada. Depois, quando entrei no mundo do trabalho, com certeza os superiores eram meus chefes. Quando me casei com o Manuel, também, isto é, nada de ir morar juntxs como é agora, porque eramos cristaos e os padres eram os que sabiam mais… (já estou imaginando como você poderia estar rindo, rapaz)...
Acho que quando era menina fui mais livre, porque nunca sentí meus pais como pessas ameaçadoramente superiores, mas era uma liberdade como a dos passarinhos...
A época mais livre de minha vida foi a criaçao de meus filhxs, com elxs aprendí a deixá-lxs livres e junto com elxs fui me libertando de minhas amarras...
O compromisso político delxs fez aparecer em mim outras facetas de minha vida, libertando meu ser mulher, política.
A morte de meus filhos fez aparecer em mim a guerreira e creio que desde esse momento tenho sido um pálido reflexo do que você, Mauri, quer dizer quando fala de ser livre... Do que querem falar tantos companheiros e companheiras cujos nomes flutuam aqui e agora: Claudia López, Daniel Menco, Norma Vergara, Alex Lemun, Aracelly Romo, Matías Catrileo, Pablo, Eduardo ,Rafael…Meus filhos.
“Embora o nosso caminho seja cabuloso, que nossos sentimentos ardam no peito mais que vulcao…”
Livres de ambigüidades, livros do indefinido, livres do mediocre.
E a respeito do amor, me parece que quando vocè consegue ser livre pode amar de verdade... até dar a vida... até dar a vida…
Tchau Mauri… Até sempre companheiro, amigo
Luisa.
22 de Maio de 2010
A um ano de tua partida.
(Luisa Toledo. mae de Eduardo, Rafael e Pablo Vergara, jovens reconhecidos em luta ativa contra a ditadura e participantes de diversas expressoes e combate.
Eduardo e Rafael sao assassinados pela polícia em Villa Francia no 29 de Março de 1985. Pablo por sua vez, morre no 5 de novembro de 1988 juntamente com Araceli Romo, produto da detonaçao de uma bomba na cidade de Temuco, segundo as versoes familiares da funesta Central Nacional de Investigaçoes elxs estaríam por trás desse fato.
Xs familiares e companheirxs dxs irmaxs Vergara têm dado uma insistente luta sem trégua contra o esquecimento onde se consegue instaurar o 29 de março como o día do jovem combatente, em homenagem aos irmaos Vergara y t e a todxs xs jovens caídxs)