segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Palavras do Anonimato



____________________________________________________________________________________________________________________________ Anônimas palavras ____________________________________________________________________________________________________________________________
“Desde hoje, cara a cara, mostrando os dentes ao inimigo. Desde hoje, temidxs e nao humilladxs. Desde hoje, em estado de guerra contra a sociedade burguesa. Tudo, no atual mundo capitalista, é indignidade e delito; tudo nos dá vergonha, tudo nos dá nojo, provoca náusea. Produz-se e se morre como cachorrxs. Deixad, pelo menos, ao indivíduo a liberdade de viver dignamente ou morrer como homem, se é que vocès querem agonizar na escravidao. O destino do homem, já se disse, é aquele mesmo que ele sabe forjar; e hoje nao há nada mais que uma alternativa: ou em rebeldia ou em escravidao”

Extrato do texto “O direito ao ócio e à expropiaçao individual” de Severino di Giovanni sob o pseudônimo de briand

Companheirxs, lembro de muitas coisas nestas horas, de Santiago e do frio que adomece os ossos, das ruas do bairro, lembro de cueto, santo domingo e cumming. Lembro nestas horas, as noites incansáveis de longas conversaçoes que se exaltavam até a vitória. A vida se apresentava enorme e sincera nestes momentos de juventude combativa. Mas agora, mais tarde do que cedo, vamos carregando xs mortxs, agora com silêncio de mortxs, viemos de geografías esculpidas à força em nossa história e é necessário beijar e abraçar a terra para nos aproximar mais a nosso companheiro, entao, o giro se fez eterno, nao foi possível em seu momento chorar a nosso único e se apresenta como uma necessidade, chorá-lo é necessário, de outro modo nossa alma apodrece. Sabemos todos que ele nao pertencía a este circo, sua melancólica elegância abría seu passo pela enorme hipocrisia da sociedade, chegou com seu caráter e coragem a comer a cidade, de cada uma de suas lembranças cresceuma flor de esperança e dinididade insurreta e em nós sua morte acaba de morrer, porque nós o mantemos vivo. Companheirxs, sinto uma falta muito grande dele, às vezes incontrolável, devo trabalhar muito comigo mesmo para nao deixar que minha tristeza transborde. Quero contar a ele o que temos vivido, o que tenho visto, o que tenho sonhado, tento explicara a ele nos meus sonhos a dor que produz sua ausência.

À noite, na sala escura de uma biblioteca Argentina, onde fui um ano depois que tinha ido o Mauri, tinha uma grande cadeira de madera que estava contra a luz e diante da porta de dois corpos que fechavam a insipiente biblioteca de cooperativismo. Entre o claro escuro cheguei a distinguir a figura de nosso único, com o mohicano depositado em seu omro direito e um livro em suas pernas cruzadas, alí nos encontramos num sonho ou realidade, já nao me lembro, acho que foram xs dois. Cara a cara expliquei para ele a desesperada incógnita, como podemos fazer para nos ver? como tentando dobrar a mao ao destino, entao respondeu: xs mortxs devem cumprir seu destino. Nao! Mas vamos tentas nos encontrar aqui nesta sala onde ninguém nos veja, como se a possibilidade da clandestinidade pudesse se driblar pela morte. Mas já era tarde, ele tinha seguido seu rumo e entre as trepadeiras que se penduravam dos tetos antigos de Buenos Aires, via-se partir. Fiz essa viagem um ano depois que ele, com as indicaçoes e mapas que nosso único nos assinalou. O sonho corre entre nós dois.

Agora maio dura uma vida inteira, emerge desde o inútil calendário como um tempo eternamente presente, para demonstrar que a vida nao é apenas concatenaçao de lembranças passivas, mas harmoniosos elos de açao, uma brisa é o antecedente de uma tormenta, uma semente é o broto fecundo de um bosque que se eleva sobre a terra para purificar o ar, uma gota é a primeira parte de um violento oceano e a açao é o princípio criador/destrutor de um mundo novo. Mas devemos saber que este caminho eleito, podemos refletir sobre ele, transformá-lo e discutí-lo, mas sempre com profundidade revolucionária, começa e acaba, nap se abandona, se percorre tomando as ferramentas que se apresentam ao longo da viagem, para estremecer suas rochas com esforço e compromisso, para abrir a trilha selvática desta compacta matéria e encontrar o coraçao da história, tomá-lo em nossas maos e localizar novamente suas constelaçoes, dando forma a seus elementos, combinando seus compostos.

Se a gente conseguir isto, já nunca vai acabar de morrer, nunca vai terminar de viver, porque hoje é um ano e depois serao 20 e o tempo vai tentar estremecer às margens da memória para deixar cair as lembranças, entao, o que fazer para nao esquecer? Devemos nos despedir do insolente constume de se acomodar ao longo dos anos e percorrer os caminhos que caem de seu corpo, porque nao há ninguém nem nada que possa engaiolar sua essencia, nem sequer nós, suas/seus mais próximos companheirxs, nao podemos definir o que nao tem definiçao, apenas podemos manifestar nosso sentimento, a sensaçao de nossa vida em companhia de sua vida, sentenciar o que ele pensava é, para dizer o menos. matá-lo.

Esta é uma saudaçao insurreta para todxs aquelxs que em pé de luta mantêm as convicçoes intactas apesar das pancadas, é uma saudaçao para meu companheiro de tantas batalhas que está presente em cada momento, principalmente a noite. Um abraço enorme e poderoso a todxs xs que fizeram possível que estas palavras chegassem até vocês, elxs sabem muito bem quem sao, por me ajudar a manter viva a esperança, por nao desistir e ter enfrentado com dignidade os embates do poder.

Saúde e anarquia
Anônimo.